Desejos

O que queremos? O que cada um de nós desejamos? Parece uma pergunta retórica, e na verdade é, mas como nada é impossível de se explicar (ou quase nada), comecemos com um pensamento simples: O que os outros querem de nós?

O tão disseminado pessimismo que muitas pessoas carregam com orgulho (pelo que parece) nos remete a primeira resposta: o MAL, todo e qualquer tipo de prejuízo, seja ele moral ou financeiro, o que prevalece é a vantagem de CADA PESSOA, não deveria ser assim. Uma citação de Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii), na música “3ª do plural”, nos remete a questão, por que ao mesmo tempo em que dependemos, precisamos do próximo para sobreviver em harmonia, nos desfazemos dele, como algo descartável?

“Eles querem te vender, eles querem te comprar,
Querem te matar a sede... eles querem te sedar,
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?”

Por tudo que o ser humano faz de errado a si mesmo e ao próximo, teoricamente, teríamos algum direito a QUERER qualquer coisa, por mínima que seja ela? Guarde a resposta pra si. O fato é que a vasta maioria (ou seria minoria?) quereria, com prioridade suprema, o AMOR entre as pessoas, o verdadeiro significado da palavra HUMANIDADE. Puxando mais pro lado individual, quereríamos um amor pra nós mesmos aproveitá-lo. Ninguém, ou quase ninguém, faz por merecê-lo. A felicidade é uma das poucas coisas que surge por merecimento, como resultado dos pensamentos e atos de cada um. Brigamos sem antes pensar nas conseqüências, ou nas causas (quando irrelevantes elas são); somos acostumados a chingar uns aos outros, coisa que deveria ser extinta, nem sob ÚLTIMO CASO de gravidade; importamo-nos apenas com as vantagens individuais, sem pensar num grupo, num país, na humanidade como um todo; andamos nas ruas com medo de sermos atacados, já dizia Thomas Hobbes, pensador iluminista do séc. XVIII: “O homem é o lobo do próprio homem”, que lobo é esse, que deveria ser nosso irmão, nosso semelhante? Incriminamos sem antes pôr os fatos à mesa; criticamos esse mesmo semelhante sem motivo justo; não damos valor às coisas devidas, as quais mesmo depois de perdê-las, eventualmente, sejam alvos de lamentações sem fim; orgulhamo-nos, ironicamente, dessa falta de compaixão que nos move; cometemos os mesmos erros vitais de séculos atrás; ainda separamos as pessoas pela cor, pela região de origem; não sabemos respeitar opiniões alheias; às vezes, sequer as ouvimos; e quando ouvimos, as humilhamos displicentemente.

Até onde esperamos chegar com essas atitudes repugnantes? O que nos levou a praticá-las? A vida é um sistema sem lógica, não gostamos todos das mesmas coisas e pessoas, a coragem não é ausência de medo, é excesso de vontade de arriscar, os corajosos não têm medo de arriscar, de perder sem lutar, e geralmente conseguem o que querem... Não é por acaso, nem por sorte. Não devemos nunca perder a esperança por um mundo melhor, contradizendo possíveis pessimismos que só nos fazem rebaixar a uma pequenez imensurável. Diante dessa análise de alguns fatos, creio ter a resposta para a pergunta inicial:

QUERO SOMENTE SER CORAJOSO, ter coragem de lutar, merecimento de conseguir, de me surpreender com a intensidade com que tudo acontece, buscando sempre o melhor caminho para levar a vida a seu paraíso próprio (sem analogias ao catolicismo, por favor!), por amor às causas perdidas!

“Somos o que somos, nada mais!
Somos o que há de melhor!
Somos o que dá pra fazer...
O que não dá pra evitar
E nem se pode escolher.”
Humberto Gessinger (“3x4” – Engenheiros do Hawaii)

Pra quem gosta de música boa, fica uma indicação, dêem uma conferida:

Letra de 'Crack The Shutters Open'


- Augusto Bentinho